📚 Referência: Yu K, Li D, Fan X, et al. Nephrol Dial Transplant. 2025;\[**[link](https://academic.oup.com/ndt/advance-article/doi/10.1093/ndt/gfaf240/8320542?searchresult=1\&login=true)**]
A nefropatia por IgA (NIgA) permanece a glomerulopatia primária mais comum no mundo e a maior causa de DRC progressiva em adultos jovens. A proteinúria sustentada é o marcador mais forte de risco e, apesar do uso otimizado de IECA/BRA e das terapias emergentes, muitos pacientes mantêm proteinúria residual — exatamente onde a finerenona, um antagonista não esteroidal do receptor mineralocorticoide (ns-MRA), começa a ganhar espaço.
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###### ** Por que considerar finerenona na NIgA?**
A NIgA combina ativação SRAA, estresse oxidativo e inflamação renal. A ativação excessiva do receptor mineralocorticoide contribui para:
• Fibrose glomerular e túbulo-intersticial
• Aumento de albuminúria
• Disfunção endotelial e dano podocitário
A finerenona é um MRA não esteroidal, com maior seletividade, menor penetração tecidual e menor risco de hipercalemia que espironolactona/eplerenona — uma vantagem especialmente relevante em DRC.
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###### **📁 Desenho do estudo em linguagem de consultório**
Este estudo retrospectivo avaliou 52 pacientes com NIgA biópsia-provada, todos utilizando IECA/BRA em dose máxima tolerada.
• Grupo finerenona + IECA/BRA: 19 pacientes
• Grupo IECA/BRA isolado: 33 pacientes
• Tempo de seguimento: 6 meses
• Faixa etária similar entre grupos
• Relação proteína creatinina urinária (P/C) basal semelhante (tabela 1: P/C \~0,9 g/g em ambos os grupos)
• Regimes prévios com corticoide ou imunossupressores semelhantes entre grupos (tabela 1)
**Doses utilizadas**
• 15 pacientes iniciaram 10 mg/dia,
• 4 iniciaram 20 mg/dia
• Após 6 meses, 16 pacientes estavam em 20 mg/dia (Figura 1)
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###### **🔬 O que a finerenona adicionou ao tratamento?**
**📉 Redução de proteinúria (P/C)**
A combinação finerenona + IECA/BRA reduziu significativamente a P/C ao final de 6 meses, enquanto o grupo controle apresentou redução discreta (**Figura abaixo**) .
• Redução percentual da UPCR marcadamente maior com finerenona
• Resposta sustentada ao longo dos 6 meses
• Melhora também na albumina sérica

**📈 Taxa de resposta clínica**
A proporção de pacientes com resposta significativa foi substancialmente maior no grupo finerenona;
• Resposta global maior
• Mais pacientes atingiram reduções clinicamente significativas de proteinúria
• Menos não respondedores em comparação ao grupo IECA/BRA isolado
**Função renal**
A creatinina e a TFGe permaneceram estáveis em ambos os grupos durante todo o seguimento — sem sinal de toxicidade renal no curto prazo.
**⚠️ Segurança**
• Hipercalemia foi incomum e não houve eventos graves (dados consistentes com conclusão do artigo)
• Nenhum caso de hospitalização
• Sintomas gastrointestinais leves foram raros
• Não houve interrupção definitiva do tratamento por efeitos adversos
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###### **O que isso muda para o nefrologista?**
Finerenona se posiciona como uma opção não imunossupressora adicional para pacientes com NIgA sob suporte otimizado que mantêm proteinúria residual.
Situações em que faz sentido considerar:
• NIgA com P/C persistente >0,7–1 g/g após IECA/BRA otimizados
• Pacientes com histórico de efeitos adversos a esteroides
• Proteinúria residual após uso de imunossupressores
• Pacientes com risco intermediário a alto de progressão
**⚠️ Limitações do estudo**
• Retrospectivo
• Centro único
• Amostra pequena (n=52)
• Seguimento curto (6 meses)
• Sem desfechos duros (TFG sustentada, DRT, mortalidade)
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###### **Opinião do NefroAtual**
Finerenona, em combinação com IECA/BRA, reduziu significativamente a proteinúria, aumentou albumina sérica, e manteve função renal estável em pacientes com nefropatia por IgA — com boa tolerabilidade e ausência de hipercalemia relevante no curto prazo.
Ela surge como uma alternativa interessante para proteinúria residual, especialmente para pacientes que já passaram por imunossupressão ou têm contraindicações ao uso prolongado de corticoide.
A próxima etapa necessária são ensaios randomizados maiores, mas o racional fisiopatológico e a resposta clínica observada são encorajadores.