O manejo prolongado do tromboembolismo venoso (TEV) em pacientes com câncer ativo exige decisões delicadas: como equilibrar a prevenção de recidivas trombóticas e o risco de sangramentos? O estudo API-CAT, publicado no New England Journal of Medicine agora em abril de 2025([link](https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2416112)).
Esse estudo traz dados robustos e atualizados que consolidam a nossa prática, já que habitualmente utilizamos uma menor dose nos pacientes com doença renal crônica (DRC) e podemos ficar com receio de não estar realizando uma anticoagulação efetiva!
🧪 Metodologia do estudo
Tipo: Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, com análise por intenção de tratar.
* População: 1.766 pacientes com câncer ativo e histórico de TEV (TVP proximal e/ou TEP), após ≥6 meses de anticoagulação.
* Intervenção: Apixabana em dose reduzida (2,5 mg 2x/dia) vs dose plena (5 mg 2x/dia) por 12 meses adicionais.
Desfechos principais:
* Primário: Recorrência de TEV (não-inferioridade).
* Secundário-chave: Sangramento clinicamente relevante (superioridade).
Resultados principais
* TEV recorrente:
* Dose reduzida: 2,1%
* Dose plena: 2,8%
* HR ajustado: 0,76 (IC 95%: 0,41–1,41) → Não-inferioridade confirmada (P = 0,001)
* Sangramento clinicamente relevante:
* Dose reduzida: 12,1%
* Dose plena: 15,6%
* HR ajustado: 0,75 (IC 95%: 0,58–0,97)→ Superioridade confirmada (P = 0,03)
* Sangramento maior: 2,9% (reduzida) vs 4,3% (plena)
* Mortalidade em 12 meses: 17,7% (reduzida) vs 19,6% (plena)

🩺 Implicações clínicas para o nefrologista
Pacientes oncológicos com TEV são frequentemente acompanhados por nefrologistas, especialmente quando há doença renal crônica (DRC) ou uso de nefrotóxicos. A apixabana, por sua farmacocinética favorável, é amplamente utilizada nessa população. Este estudo apoia o uso da **dose reduzida como estratégia eficaz e mais segura** no seguimento prolongado, inclusive em pacientes com disfunção renal leve a moderada (exceto ClCr <30 mL/min).
⚠️ Considerações importantes
* Foram excluídos pacientes com TFGe <30 ml/min (Equação de Cockcroft-Gault)
* A maioria dos pacientes tinha bom status funcional (ECOG 0–1).
* O estudo não avaliou pacientes com alto risco de sangramento ativo ou neoplasias com maior propensão hemorrágica (ex: tumores urológicos invasivos).
* O impacto em populações específicas (ex: etnias, pacientes dialíticos) ainda precisa ser estudado.
✅ Conclusão prática (foco na DRC)
Nos pacientes com câncer e doença renal crônica (DRC), o uso da dose reduzida de apixabana (2,5 mg 2x/dia) já é frequentemente adotado na prática clínica, por precaução diante do risco aumentado de sangramento. Os dados do estudo API-CAT reforçam essa conduta: mesmo em uma população oncológica de alto risco, a dose reduzida não comprometeu a eficácia na prevenção do TEV e ainda resultou em menor incidência de sangramentos clinicamente relevantes. Isso oferece segurança adicional para nefrologistas que optam por essa estratégia em pacientes com ClCr reduzido (particularmente entre 30–50 mL/min).